Jundiaí se sobressai em várias áreas da economia entre os municípios paulistas, mas é na logística que tem conquistado espaço cada vez mais reconhecido. O cenário ainda preocupa, com a queda na produção industrial, observada nos últimos meses e influenciada pela conjuntura econômica, mas graças ao diversificado parque, as empresas não observaram impacto significativo. À espera do Ferroanel, o setor ainda encontra dificuldades na contratação de mão de obra especializada.
Anderson Moreira, presidente da ABEPL, a Associação Brasileira de Empresas e Profissionais de Logística, lembra que a economia instável afetou a área de logística, mas sem muita repercussão na Região de Jundiaí. “Nossa infraestrutura logística é muito boa, o que permite às empresas maior produtividade, com um custo-logístico automaticamente menor que em outras regiões. A logística hoje representa cerca de 12% do PIB brasileiro, o que mostra a representatividade do setor na economia”, afirma, alertando para a necessidade de balanceamento maior das modalidades de transporte.
Moreira salienta a necessidade de investimentos como alavanca para o crescimento, cada vez mais evidente no setor. “Temos boas expectativas quanto a novos investimentos e esperamos que o Ferroanel saia logo do papel, pois hoje ainda há concorrência entre transporte de cargas e de passageiros”, comenta, lembrando que a região é privilegiada por contar com as melhores e principais rodovias do país, além da proximidade de aeroportos internacionais.
Integração de modais
A Contrail Logística, responsável pela operação do Terminal Intermodal de Jundiaí, é uma das empresas que refletem com sucesso os novos rumos do setor. Segue uma estratégia competitiva para exportações, importações e logística doméstica, via ferrovia, até o Porto de Santos. O terminal ocupa uma área de 70 mil m2 e funciona junto à linha férrea da concessionária MRS, em operação 24h.
Diego Bueno, diretor comercial e de operações da Contrail, afirma que a empresa passa por uma fase de consolidação e aumento no volume. “Fazemos o transporte de contêineres através dos modais ferroviário e rodoviário. Em relação a 2018 dobramos o volume transportado, entre janeiro e abril. Começamos em 2017 com cinco empresas e hoje já são 21”, revela, citando segmentos como bens de consumo, alimentos e eletrônicos, entre outros.
O encarregado de operações Rogério Tristão aponta vantagens da ferrovia em relação à rodovia. “Não emite poluentes como a rodovia e uma composição pode transportar até 50 contêineres, enquanto um caminhão leva no máximo dois”, diz. Num cenário econômico de busca por eficiência, a ferrovia oferece baixo custo, nível elevado de segurança operacional e da carga, além do baixo impacto ambiental. Com a integração entre modais, há redução de custos dos clientes com a armazenagem de carga, uma vez que os contêineres ficam na área da Contrail, liberando espaço nos estoques das indústrias.
Mão de obra
Dayane Lima, supervisora de Recursos Humanos da Contrail, lembra que a qualificação ainda é um desafio, mesmo numa cidade que oferece uma gama de opções de cursos em diversas instituições. “Jundiaí é uma região industrial e nosso negócio é logística portuária, portanto ainda há dificuldade para encontrar mão de obra qualificada. Contratamos trabalhadores e os treinamos num período de até seis meses para que estejam aptos”, explica a supervisora ressaltando que o quadro dobrou no último ano, com atualmente 65 funcionários, além dos terceirizados.
Estrutura
Gilson Pichioli, diretor de Fomento à Indústria do Município, lembra que Jundiaí está fazendo a lição de casa e se preparando para o futuro em termos de infraestrutura logística. Essa adequação se faz necessária para que o mercado seja mais competitivo, com uma consequente redução de custos. “Precisamos ter uma infraestrutura que nos permita a entrega de produtos com mais rapidez e custo atrativo, para ser competitiva no mercado nacional e internacional, daí a importância de retomar, fortalecer e viabilizar o transporte ferroviário”, alerta.
Jundiaí tem grande potencial também para a logística reversa
O nome logística reversa parece novo, mas está cada vez mais difundido no setor industrial. É uma prática em mercados de commodities de materiais, como o ferro, que há muito tempo executa a operação reversa de produtos e materiais inservíveis para reciclagem, beneficiamento e emprego em outro setor produtivo, reduzindo a utilização e a extração de material in natura. Marcelo Souza, diretor de Meio Ambiente do Ciesp-Jundiaí, lembra que o tema ganhou notoriedade e força em 2010, com a publicação da Lei 12.305 – Política Nacional de Resíduos Sólidos, cujo objetivo é organizar a cadeia reversa de produtos que chegaram ao fim de vida, assim como determinar o papel de responsabilidade de cada ator da cadeia, ou seja, governo, fabricantes, varejistas, revendedores, importadores, entre outros. O cumprimento dessa lei, segundo ele, foi instituído por etapas e setores, tendo como foco inicial a organização da logística reversa primeiramente nos municípios, escalonando para setores e atores dessa cadeia.
“Jundiaí possui grande potencial para esse mercado latente, devido a sua localização privilegiada, boa facilidade de acesso, centrado em grande densidade populacional, fator preponderante para a logística reversa. O Ciesp atua de forma ativa em todas as frentes que impactam na indústria, onde o meio ambiente e a logística reversa sempre estão em pauta”, diz o diretor, lembrando que para o segundo semestre de 2019 haverá um evento com formato ainda novo no Estado para fomentar o tema, buscar soluções e oportunidades para toda a cadeia.
O cenário da logística reversa evoluiu muito desde 2014, ano limite para início das atividades municipais, com notórias estruturações em setores como o de embalagem de agrotóxicos, lâmpadas fluorescentes e pneus. O assunto é muito complexo e precisa do apoio de todos os envolvidos para suportar a operação reversa num país de dimensões continentais.
Fonte: Jornal de Jundiaí por SOLANGE POLI
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