Me lembro de uma passagem curiosa em minha infância. Estava com minha mãe na padaria quando de repente a atriz Luciane Adami entrou para comprar pães. Luciane interpretava a personagem Guta, da novela Pantanal, na extinta Rede Manchete. Era o ano de 1990 e eu tinha apenas 13 anos. Quando a vi caminhar pelo estreito corredor dos laticínios meu coração congelou. Ela era extremamente famosa e vinha desempenhando um papel dramático, que gerava muita pena nos telespectadores pela sua condição de renegada ao amor do galã Joventino, interpretado por Marcos Winter. O povo brasileiro inteiro sofria com essa situação. Enquanto eu congelei, minha mãe a abordou sem pestanejar e disse a ela: Guta, não desista deste amor! Insista que você será feliz com ele!

Confesso que não entendi nada. Para mim, estava muito claro que se tratava de uma novela, mas para minha mãe, personagem e atriz se confundiam.
Percebi que a história havia mexido demais com seu emocional, mas depois de um bom tempo, constatei que ela não era a única.

Ler uma ficção ou assistir a uma série nos faz desenvolver a Empatia Cognitiva, ou seja, nos colocamos no lugar da personagem e passamos a entender o seu ponto de vista, suas dores e suas atitudes. Acionamos a parte do cérebro conhecida como temporoparietal. Essa região nos ajuda a refletir sobre o estado mental de outra pessoa, incluindo as situações que ajudam a moldar esse estado. Essa reação cerebral também é acionada quando compreendemos o que assistimos ou lemos.

Os estudos do neurociência descobriram que, se assistirmos a séries ou lermos histórias, temos quase o mesmo impacto de estaremos vivenciando aquela situação.
Fica explicado por que ficamos viciados em determinadas séries. Então, se não terminamos a temporada, não conseguimos nos livrar da história que nós mesmos estamos vivendo (pois nosso cérebro acha isso).

Essas foram as conclusões de pesquisadores da Universidade de Washington e da Lee University, que não só comprovaram a mudança de nosso mindset sobre determinados pontos de vista, mas também comprovaram que é possível mexer com nossos vieses inconscientes. Portanto, se você quiser elevar seu conhecimento a um outro nível cognitivo, assista séries ou leia livros que enfrentam e desafiam os seus pontos de vista

Por exemplo, se você conhece alguém que acredita que Muçulmanos são todos terroristas, recomende para que a pessoa assista a série israelense “Fauda” ou mesmo o clássico de Sacha Baron Cohen: “O Espião”. Se você tem dificuldade para entender as relações no trabalho, assista a The Office”, “House Of Cards” e “Mad Men”. E por aí vai…

Isso vai mexer com as crenças e o ponto de vista, ajudando a desenvolver a Empatia Cognitiva. E se você tiver paradigmas sobre o mundo corporativo, política, comportamentos ou mesmo sobre esportes, está comprovado. Séries e livros nos ajudam a evoluir e nos tornar mais resilientes na interpretação do ponto de vista de outras pessoas.

Alberto Roitman é fundador da Nexialistas Consultores. Escreve sobre comportamentos no ambiente corporativo. É autor dos livros: Você é o que você Entrega, A Última Chance e Temas para se Discutir em Equipe (Fev/2020).

Fonte: Linkedin por Alberto Roitman
Imagem: Netflix

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